“Tudo é pouco diante do que Deus faz por nós”
22/05/2011
Nice Affonso
Neste domingo, 22 de maio, aquela que já foi chamada de “Anjo Bom da Bahia” e hoje é conhecida como “Anjo Bom do Brasil” será proclamada por toda a Igreja “Bem-Aventurada Dulce dos Pobres”. A cerimônia da beatificação de Irmã Dulce, às 17h, acontecerá no Parque de Exposições, em Salvador, presidida pelo Arcebispo Emérito local, Cardeal Dom Geraldo Majella Agnello, nomeado delegado papal.
Maria Rita de Sousa Brito, a Irmã Dulce, nasceu em Salvador (BA), no dia 26 de maio de 1914. Ela foi especialmente notada por suas obras de caridade e assistência. Modelo de perseverança, dedicação e esperança para os homens e mulheres de todos os tempos, a Religiosa deixou um testemunho vigoroso de uma fé inabalável e uma dedicação sem medidas àqueles que ninguém costuma querer por perto: os pobres, os doentes e os marginalizados.
“Aquele que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento, é um outro Cristo que nos procura”, costuma dizer Irmã Dulce, que, nunca temeu as dificuldades por considerar que o que fizesse para Deus ainda seria insuficiente: “O amor supera todos os obstáculos, todos os sacrifícios. Por mais que fizermos, tudo é pouco diante do Que Deus faz por nós”, afirmava.
Seu coração misericordioso começou a se revelar aos 13 anos de idade, quando ela começou a fazer caridade, ajudando mendigos que moravam nas ruas da capital baiana. Só aos 18 anos entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, quando, para homenagear a mãe falecida anos antes assumiu o nome dela: Dulce. Sua primeira missão pela Congregação foi lecionar em um colégio em Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Nessa mesma época, começou a fazer atendimento aos operários, criando em seguida um posto médico e fundando, em 1936, a primeira organização operária do Estado, a União Operária São Francisco, que mais tarde deu início ao Círculo Operário da Bahia.
A dedicação da religiosa, pouco a pouco, foi ganhando vulto social. Tanto que, em 1988, o então Presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, a indicou para o Prêmio Nobel da Paz. Embora ela não o tenha conquistado, teve o trabalho ainda mais reconhecido.
Obras Sociais Irmã Dulce
Em 1949 Irmã Dulce abrigou seus primeiros 70 doentes no galinheiro do Convento das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Só em 1959, teve início, no mesmo local, a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), que, por dez anos, existiu contando apenas com o trabalho de voluntários e doações conseguidas pela religiosa.
Irmã Dulce deixou para o País um verdadeiro patrimônio em ações sociais. Atualmente, as Obras Sociais Irmã Dulce prestam assistência médica, social e educacional gratuitamente. Pesquisa e ensino médico em 13 especialidades também são oferecidos. Ao todo, a Instituição administra 17 unidades, que, hoje, já atendem mais de 5 milhões de pessoas. A entidade é considerada pelo Ministério da Saúde o maior complexo de atendimento 100% gratuito em saúde do Brasil e responsável pelo maior volume de atendimento em toda a estrutura do setor na Bahia.
João Paulo II
Em 1980, em sua primeira visita ao Brasil, o então Pontífice, João Paulo II, incentivou Irmã Dulce a seguir com seus trabalhos. Mais tarde, em 1991, em sua segunda visita ao País, ele fez questão de visitá-la em seu leito no hospital, quando já estava bastante debilitada.
Nos últimos 30 anos de vida, Irmã Dulce contava com apenas 30% de sua capacidade respiratória, por causa de um enfisema pulmonar. Com a saúde abalada seriamente, a religiosa chegou a pesar 38 quilos.
5 meses após a visita do agora Beato João Paulo II, Irmã Dulce faleceu. Sua morte se deu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos de idade.
O milagre
Uma graça só é considerada milagre após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência).
— O milagre apresentado no processo foi examinado meticulosamente por especialistas do Brasil e de Roma. Um reconhecimento que vem mais uma vez confirmar a vida de virtudes de Irmã Dulce – trajetória essa baseada na total dedicação aos pobres e doentes, afirmou o Arcebispo Emérito de Salvador, Cardeal Dom Geraldo Majella.
Segundo os registros, o milagre foi a sobrevivência da sergipana Cláudia Cristiane dos Santos, que foi desenganada pelos médicos, após sofrer uma hemorragia incontrolável no pós-parto, em 11 de janeiro de 2001.
Durante 28 horas a equipe comandada pelo obstetra Antônio Cardoso Moura esgotou todos os recursos disponíveis na maternidade. Mesmo após três cirurgias, o sangramento da paciente não cessava. Os médicos resolveram, então, fechar o abdômen de Cláudia e conversaram com a família, pois não havia mais nada o que fazer. Contudo, sem nenhuma outra intervenção médica, a hemorragia subitamente parou e a paciente se recuperou.
Desde que o caso começou a ser estudado, em 2003, a identidade de Claudia era mantida sob sigilo, por orientação do Vaticano. Segundo a direção das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), mais de dez médicos brasileiros e três italianos estudaram o caso e não encontraram explicação para a cura de Claudia.
Analisado por peritos médicos, religiosos e especialistas em processo canônico, o episódio tem validação jurídica emitida pela Santa Sé em junho de 2003, e é reconhecido como o primeiro milagre, pelo Papa Bento XVI, em dezembro de 2010.
Passos para a Beatificação
A partir deste domingo, Irmã Dulce será a terceira religiosa, natural do Brasil, a ser beatificada. No hall das beatas brasileiras o País já tem Albertina Berkenbrock e Lindalva Justo de Oliveira. A única beata estrangeira, mas com missão nesta nação, é a austríaca Bárbara Maix.
1999 – A Arquidiocese de Salvador publica edital, no qual o Cardeal Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella, solicita que todos os fiéis comuniquem as notícias favoráveis ou contrárias à fama de santidade de Irmã Dulce.
2000 – Abertura do Processo Canônico sobre a vida, virtudes e fama de santidade de Irmã Dulce.
2001 – O Tribunal Eclesiástico recebe o relato de um milagre alcançado por intercessão de Irmã Dulce, que passa a ser estudado com os rigores pedidos.
2002 – O documento canônico “Positio” fica pronto.
2003 – O Tribunal Eclesiástico é instalado para o estudo do possível milagre e a Congregação para a Causa dos Santos recebe a Positio da Serva de Deus.
2009 – A Congregação para a Causa dos Santos anuncia voto favorável e unânime de seu colégio das virtudes heróicas de Irmã Dulce, reconhecidas pelo Papa Bento XVI, que autoriza oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana.
2010 – Na exumação do seu corpo, em junho de 2010, os representantes do Vaticano e pessoas presentes se mostraram impressionados com a mumificação natural do corpo, 18 anos após a morte da religiosa. A exumação é a penúltima etapa do processo de beatificação. “A roupa estava conservada mesmo após 18 anos, apesar de um pouco escura. O semblante dela é muito sereno, não há odor”, disse a sobrinha e superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce, Maria Rita Pontes, em entrevista à imprensa na época.
O Cardeal Dom Geraldo Majella anuncia o voto favorável e unânime do colégio de Cardeais e bispos da Congregação para a Causa dos Santos sobre a autenticidade de um milagre atribuído à Irmã Dulce. Um dia após o decreto papal, a fase de canonização do processo foi iniciada.
2011 – 22 de maio é a data da sua beatificação.
Cerca de 70 mil fiéis são esperados em Salvador para a cerimônia da beatificação de Irmã Dulce.
* Fonte: Canção Nova e Arquidiocese de Salvador
* Fotos: Canção Nova